Aqui está uma versão revisada da história da nova história da Ann, que eu estou escrevendo. Desculpe, Língua (onde quer que você esteja), mas acho que essa aqui não vai poder ser um esforço conjunto. Eu sou "ciumento" demais com esta criação em particular para passar o controle dela a qualquer outra pessoa, nem que seja para dividir.
O que deu para perceber dos seus comentários e do seu trecho, porém, foi que a primeira versão estava um pouco sombria demais. As outras histórias eram só tragédia e escrotidão, mas esta daqui está puxando mais para fantasia surreal. O clima que eu quero passar é mais de estranheza e misticismo do que de depressão.
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Ela foi uma rainha, o destino de uma nação equilibrado em suas mãos
delicadas.
Ela foi uma mãe, protegendo seus muitos filhos de algo terrível.
Ela foi uma prostituta, trilhando os passos dolorosos de uma vida não
vivida.
E, agora, ela era uma criança entre dezenas de outras, morando em um
orfanato enorme saído de algum conto de fadas.
Sua vida verdadeira havia sido deixada para trás em algum lugar do
mundo real, quando essas palavras não soavam absurdas a seus ouvidos.
Tinha quase certeza que se lembrava dos momentos mais importantes.
Quando abriu os olhos ainda esperava ver a calçada suja do beco onde
morreu com os pulsos cortados e o sangue cheio de drogas em sua última
existência. A lembrança se esvaiu como água suja em um ralo assim que
ela viu os querubins, barrocos com suas asinhas e harpas em um papel de
parede azul-celeste.
Olhou ao redor. O teto era de madeira, tábuas finas cuja pintura branca
descascava em padrões geográficos. A cama era grande, e as várias
camadas de acolchoados que a cobriam passavam a sensação de estar em um
forno enquanto o mundo lá foram congelava.
Foi mais fácil escorregar para fora da pilha de cobertores e sentar com
as costas apoiadas na cabeceira do que tentar tirar tudo aquilo. A cama
estava encostada em um canto, dividindo o quarto com outros trinta
leitos parecidos, cada um com sua menina meio grogue de sono. Conforme
as outras levantavam, olhavam em sua direção e exibiam diversas reações
de surpresa. Algumas delas soltavam gritinhos empolgados e corriam para
se amontoar ao redor dela, outras reuniam-se em rodas apertadas e
sussuravam entre si. O que ela tinha de tão especial?
Uma garota muito alta e magra, que parecia ser um pouco mais velha que
as outras, destacou-se do aglomerado e dirigiu-lhe palavra.
-- Oi! Eu sou Tina Sabe-Tudo. Você já tem nome?
A princípio, pareceu uma pergunta imbecil. Claro que ela tinha nome!
Por acaso era algum bebê recém-nascido? Era mais velha do que qualquer
uma ali! Tinha quase certeza disso. A resposta, porém, morreu antes de
deixar seus lábios, e a pergunta de repente não era mais tão boba assim.
Como era seu nome mesmo? Foi forçada a abaixar a cabeça e sacudí-la
lentamente em negativa.
A menina alta riu, e as notas de seu riso cristalizaram-se ao
tocarem a luz do sol que entrava pelos vãos da cortina diáfana ali
perto. Aproximou-se dela e levantou-lhe o rosto, examinando-o
atentamente.
-- Ana. Você tem cara de Ana.
Pela primeira vez desde que havia acordado, ela sentiu que podia falar.
-- Então esse é o meu nome?
Um murmúrio correu por entre a pequena multidão que havia se reunido ao
redor de Ana. Até mesmo Tina pareceu um pouco surpresa. Ninguém nunca
havia falado no primeiro dia desde que ela chegara ali! Enquanto ela
ainda pensava no que aquilo poderia significar, o relógio entalhado
preso à parede começou a bater sete horas da manhã. Todas as meninas
largaram suas conversas no meio e dirigiram-se aos baús no pé de cada
cama, tirando de lá toalhas, barras de sabão de formato antiquado e
calcinhas de algodão branco praticamente idênticas.
-- Hora do banho. -- disse Tina. -- Suas coisas tão no baú, pega elas e
vem comigo.
O silêncio da fila indiana se dirigindo para fora do quarto não era
completo, mas contrastava com o burburinho anterior de uma forma que
deixava Ana um pouco desconfortável. Ela lembrava-se de lamentar sua
solidão, mas agora que era o centro das atenções não tinha certeza de
que isso era uma boa coisa.
O teto do corredor era o mesmo, mas o papel de parede era mais sóbrio,
listras e flores vermelhas combinando com a cor escura do carpete.
Havia muita gente na frente dela, e era difícil ver para onde a fila se
dirigia. Houve dois lances de escada em algum ponto, mas era
difícil dizer onde. Tina, que prometera explicações, permaneceu quieta.
O banheiro era todo forrado de azulejos brancos, e mais parecia
pertencer a um alojamento militar do que a um orfanato (ou coisa que o
valha). Uma sala grande o suficiente para acomodar todas as meninas,
dividida quase ao meio por uma parede que não alcançava o teto
altíssimo. De um lado, pias e espelhos; do outro, chuveiros e vasos
sanitários. Tudo era inquietantemente panorâmico.
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Continua quando der vontade.
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